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terça-feira, 18 de maio de 2010

Na roça

...]Ouve-se ao longe o chiado
De um velho carro de boi
Lembrança de um tempo passado
De um tempo que se foi...


Bem pertinho da estrada
Uma casa de sapé
Soltando uma fumarada...
Já estão coando o café[...



...]Dois cavaleiros trotando
Vêm descendo uma ladeira
Os cavalos relinchando
Numa nuvem de poeira[...




...]O mugir da vaca malhada
E um copo de leite quentinho...
Na cozinha atijolada
Um bom café com bolinho[...



...]Ditinha varrendo o terreiro
Pondo-o bem limpo e garrido
Espanta o cavalo matreiro
Sai pra lá, seu atrevido!



Uns pintinhos vão ciscando
Lá no fundo do quintal
Pombas brancas arrulhando
Sobre as telhas do beiral



Na cozinha a Nhá Maroca
Vai cozinhando o feijão
Enquanto moe a paçoca
Num grande e velho pilão



Puxando o balde, a Ditinha
Lá das profundezas do poço:
Vô matá uma franguinha
Tá na hora do armoço



O cachorro perdigueiro
Latindo espanta a gatinha
Que corre pelo terreiro
E se esconde na cozinha



O forno de barro a um canto
Além, o valho paiol
E tudo brilha, tudo é encanto
À luz dourada do sol



A cabra está dormitando
À sombra de um velho telheiro
E uns porcos vão engordando
No cercado do chiqueiro



Na roça a vida é tão boa!
Quanto sossego e fartura
Galinha, frango e leitoa
Milho verde, rapadura...



Feixes da verde cana
E a garapa saborosa
Cachos da boa banana
Madurinha apetitosa



Junto à casa, no terreiro
Viceja florida roseira
Rente a ela um chuchuzeiro
E uma verde e folhuda abobreira[...



...]Noites de São João na roça!
Mil encantos, tradição
Bom quentão, festança grossa
Com rezas, fogueira e rojão



Eis o mastro no terreiro
Todo enfeitado de flores
E ao canto milagreiro
Todos rendem seus louvores[...



...]Então à luz do candeeiro
No doce aconchego do lar
Um café com pão caseiro
E depois... é descansar


No tempo da chuvarada
O sítio é desolação!
O marulho da enxurrada
Goteiras pingando no chão[...



...]E contam-se histórias antigas
E “causos” de assombração
Histórias que são ouvidas
Com arrepio e emoção


Um cafezinho bem quente
Para espantar a friagem
Põe o pessoal bem contente
Dá calor e dá coragem



Depois, é a cama quentinha
E um macio cobertor
Dormindo-se até manhazinha
Um sono reparador.



Anna Nayá Fleury Nogueira – In Mente



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